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O desenvolvimento sustentável tem tudo a ver com a moda

Categoria: Notícias do Setor | 10 de setembro de 2019

A forma como produzimos e consumimos pode ser nosso ponto de partida para pensarmos em desenvolvimento sustentável

*Por Dandara Valadares para o blog do Fashion Revolution na Carta Capital
Fonte: Carta Capital

Desde os anos 2000, a ONU trabalha em um conjunto de metas para o desenvolvimento sustentável, promovendo ações para o fim da pobreza e proteção ao meio ambiente. De 2000 a 2015, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) estimularam governos e a sociedade civil a desenvolver projetos que revissem o curso global de ação, e através das metas estabelecidas pela ONU, observou-se progresso significativo na diminuição da pobreza, acesso à educação, queda da mortalidade infantil, acesso à água potável, entre outros.

Os ODM mostraram que o estabelecimento de metas é eficiente para promover mudanças. Com isso, em 2015 foram estabelecidos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), que se baseiam nos ODM mas com metas mais ambiciosas, refletindo novos desafios de desenvolvimento sustentável para garantir a dignidade da pessoa humana.

O desenvolvimento sustentável e a cultura de consumo

A forma como produzimos e consumimos pode ser nosso ponto de partida para pensarmos em desenvolvimento sustentável. O modelo de produção e consumo difundido pela globalização, ao mesmo tempo que gerou emprego e interligou povos, pressupõe a exploração de recursos humanos e ambientais com consequências sem precedentes à história humana. Ao mesmo tempo em que a globalização trouxe o acesso à informação através da internet ou o desenvolvimento econômico a alguns países, ela trouxe a miséria e a escassez de recursos que em sua grande parte fica longe dos olhos do consumidor final.

A cultura da falta de transparência de empresas ajuda a esconder trabalhadores e as condições muitas vezes subumanas a que são submetidos. A falta de responsabilidade ambiental das indústrias e a falta de fiscalização dos governos comprometem ecossistemas inteiros pela contaminação de solos e da água e pela emissão de gases tóxicos, comprometendo a vida de não só trabalhadores da cadeia, mas de todos nós.

A indústria da moda e os ODS

Um dos setores que mais se transformou com a globalização foi o da moda. Os ODS 8 (emprego digno e crescimento econômico) e 15 (vida sobre a terra) são alguns dos que tratam dos temas mais latentes na indústria da moda atualmente. O Brasil é a última cadeia têxtil completa do Ocidente. Temos desde a produção das fibras, como plantação de algodão, até os desfiles de moda, passando por fiações, tecelagens, beneficiadoras, confecções e forte varejo. Somos o 2º maior empregador da indústria de transformação, perdendo apenas para alimentos e bebidas (juntos), de acordo com a Associação Brasileira de Indústria Têxtil (ABIT), o que mostra a grande relevância da indústria da moda para a economia do país e para geração de empregos.

Vemos também o papel importante da moda para a garantia da vida na terra, quando consideramos que cerca de 25% do consumo mundial de agrotóxicos é utilizado no cultivo do algodão. Somado ao uso de transgêneros e da monocultura, esse cenário coloca em risco a biodiversidade e a saúde dos agricultores e de comunidades locais.

A exploração de mão de obra barata e de recursos naturais em países subdesenvolvidos criaram condições para que a produção de moda acelerasse ao ponto de, ao invés de uma coleção por estação, passamos a ver uma por semana nas grandes redes de fast fashion (ou moda rápida, um modo de produção e consumo no qual os produtos são produzidos, consumidos e descartados rapidamente). A cultura do descartável se enraizou e revolucionou a maneira como consumidos, questão tratada no ODS 12 (consumo e produção responsáveis).

Além disso, se considerarmos que 85% da mão de obra no setor é feminino, sendo que apenas 15% dessas mulheres estão em posição de liderança, vemos que a moda também está diretamente ligada à questão de desigualdade de gênero, tratada na ODS 5 (igualdade de gênero). Veja mais sobre mulheres na moda aqui.

Quando percebemos que a moda tem esse poder sobre a vida das pessoas e o meio ambiente, conseguimos entender a sua força. Essa força pode ser positiva e usada de forma a reduzir impactos e a gerar riquezas. Iniciativas como manutenção e reutilização de roupas antigas, compras em brechós e aluguel de roupas são um primeiro passo para repensarmos nosso modo de consumo e o custo real que cada peça possui.

Ao nos informarmos e reconhecermos o impacto que geramos através do nosso consumo, conseguimos entender como contribuir de forma efetiva para as metas de desenvolvimento sustentável. O acesso à informação sobre os meios de produção é um direito do consumidor e um dever da indústria, sendo responsabilidade do governo garantir que isso aconteça. Como podemos cobrar a gestão correta de resíduos das empresas se não sabemos que essa é responsabilidade dela? Como podemos denunciar trabalho análogo à escravidão se não sabemos quem são as pessoas que estão por trás da produção de nossas roupas? Como podemos pensar em inovações e formas alternativas de consumo se não estamos conscientes do impacto gerado na produção de nossos bens de consumo?

A informação e a transparência são as chaves da mudança que queremos.